Oraison, Marc (1914-)
O sacerdote francês Marc Oraison simboliza, para o grande público, certa contestação no seio da Igreja Católica. Suas tomadas de posição nos temas da sexualidade, seus enfrentamentos com a hierarquia, os incidentes ocorridos em algumas de suas conferências, asseguraram-lhe uma fama que seus adversários qualificam de escandalosa. No entanto, suas idéias de sacerdote, médico, teólogo e psicoterapeuta, ilustram uma mudança na Igreja Católica.
Depois de uma experiência religiosa e vocacional muito movimentada, ordenou-se sacerdote em 1948. Descobriu a psicanálise — Hesnard, Dalbiez, *Freud e outros — e preparou sua tese de teologia sobre Vida cristã e sexualidade, que defendeu em março de 1951. Sua aparição em 1952 provocou violentas polêmicas no clero. Em abril do mesmo ano, foi advertido pelo Santo Ofício, e em 1953 a obra foi colocada no *Índex. A partir desse momento, Oraison dirigiu sua atividade para resolver os problemas de seminaristas e sacerdotes “em dificuldade”. Participou na fundação de uma clínica especializada em problemas psiquiátricos. Como suas intervenções determinavam o abandono do caminho sacerdotal por parte dos consulentes, Oraison foi condenado por Roma em 1966: negação do imprimatur para suas obras, proibição de prosseguir seus trabalhos de psicanálise e de falar em público. Medidas anuladas posteriormentre.
A vida de Oraison, depois do *Vaticano II, prosseguiu com menos tensão com a hierarquia. Interessou-se pelos problemas dos “blousons noirs”, escrevendo um livro em colaboração com um deles: Grito de socorro de um blouson noir. Mas Oraison continuou sua pesquisa. Publicou A culpabilidade (1974), um estudo sobre o sentimento do pecado nas pessoas religiosas. Em 1975 publicou A questão homossexual, para enfocar realidades condenadas até agora pela Igreja. E outros trabalhos posteriores, sempre em torno de problemas psiquiátricos relacionados com a religião. A esse respeito, no fundo da temática de Oraison está o que ele considera “imobilização das estruturas eclesiásticas que esterilizam o sacerdócio”. Defende a desclericalização da Igreja, “demasiado submetida ao racionalismo tomista e despreocupada com a vida”.
BIBLIOGRAFIA: Ilusão e angústia; Por uma educação moral dinâmica; Psicologia e sentido do pecado.
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