História da Igreja

Salisbury, João de (1115/1120-1180)

Nasceu em Salisbury e morreu em Chartres. “As obras deste inglês instruído na França e que morreu bispo de Chartres, não desmerecem da época do Renascimento, nem pela qualidade do seu estilo nem pela delicadeza do espírito que as inspira... Para dar uma idéia exata da variedade da Idade Média, nada melhor que se se deter um pouco nos escritos deste bispo do séc. XII, que foi também um delicado literato” (E. Gilson, A filosofia na Idade Média, 257).

Desde muito jovem (1136) o encontramos na França, onde recebeu sua grande formação humanista e filosófica. Entre seus mestres encon­tram-se *Abelardo e Gilberto de la Porrée. Em 1151 voltou à Inglaterra como secretário do Ar­cebispo de Cantuária, Teobaldo, e, posteriormen­te, do seu sucessor, Tomás Becket. Foi nomeado Arcebispo de Chartres (1176), vivendo nesta ci­dade até a sua morte (1180).

O interesse humanístico de João de Salisbury é evidente já na sua primeira obra, Entheticus sive de dogmate philosophorum (1155). Um poema em dísticos, cuja primeira parte é um manual de filosofia greco-romana. Seguem-lhe suas nume­rosas Epistolae, uma Historia Pontificalis, uma vida de *Anselmo de Cantuária e uma vida de Tomás Becket. Suas duas obras principais foram escritas a partir de 1159: são o Polycraticus, pri­meira obra medieval de teoria política, e o Methalogicon, uma defesa do valor e da utilidade da lógica.

João de Salisbury tenta fazer reviver a eloqüên­cia de Cícero e de Quintiliano, isto é, a formação intelectual e moral completa do homem reto, ca­paz de expressar-se bem. Cícero é seu modelo de filósofo em seu estilo e em seu pensamento.

 

— “Nem o completo dogmatismo nem o ceti­cismo absoluto respondem à situação real do co­nhecimento humano, composto de certezas, de probabilidades e de ignorâncias.” Não se trata, pois, nem de saber tudo nem de ignorar tudo. Um saber harmônico e razoável: eis o que, sem colo­car em dúvida as verdades da fé, pretende João de Salisbury.

Dessa atitude partem suas posições fundamen­tais:

— Sobre os universais: “O mundo fez-se ve­lho; tem-se dedicado a essa empresa mais tempo do que o requerido pelos césares para conquistar e governar o mundo. O ultra-realismo é errôneo. Os universais são construções mentais que não existem na realidade extramental”.

— Sobre a lógica: é o instrumento do pensar, segundo queria Aristóteles. Tem predileção pelo sentido justo e pelas soluções claras, sente horror à obscuridade e ao verbalismo.

— Sobre o fim: o que interessa ao homem é chegar até o fim, e a investigação filosófica não é um jogo desinteressado. Se o verdadeiro Deus é a verdadeira sabedoria humana, então o amor de Deus é verdadeira filosofia. Não é filósofo com­pleto o que se contenta com um conhecimento teórico, senão o que vive a doutrina ao mesmo tempo em que a ensina: “Philosophus, amator Dei est”.

 

Essa é a concepção de vida desse espírito “que foi sem dúvida mais delicado que genial, porém tão fino, tão rico e tão perfeitamente cultivado que sua presença realça e enobrece, em nosso pensamento, a imagem de todo o século XII”.

BIBLIOGRAFIA: PL 199 Edições críticas do Polycraticus e do Methalogicon por C. C. J. Webb, Oxford 1909. 

 

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