Instituições morais (moral casuísta) (séc. XVII)
Aos *Livros penitenciais e às *Summas dos confessores, seguem as Instituições morais ou textos de moral casuísta. “O surgimento nos inícios do século XVII, exatamente em 1600, das Instituições morais do jesuíta espanhol Juan Azor marca o nascimento de um gênero literário novo na teologia moral. Desligada daqui por di-ante da filosofia viva, do dogma, e inclusive de uma teologia moral especulativa, alheia à espiritualidade e à mística, esta Theologia moralis practica, modesta servente do confessor, chamava-se pomposamente Theologia moralis”
(L. Vereecke, Introducción a la historia de la teología moral).
O desenvolvimento histórico da moral casuísta vai do séc. XVII até o Concílio *Vaticano II, por assinalar um momento singular. Durante esse período, a história da teologia moral se reduz a um esquema simples: luta entre laxistas e rigoristas, entre probabilistas e probabilioristas. Autores como Juan Azor (1536-1603), já mencionado, *Bartolomeu de Medina, Busembaum com sua obra Medulla theologiae moralis (1650), os *Salamanticenses com o Cursus theologiae moralis, Caramuel (1606-1682) e muitos outros, militam nas fileiras de um e outro grupo. A luta entre laxistas e rigoristas exigiu a intervenção do magistério eclesiástico. Alexandre VII e Inocênio XI condenaram proposições laxistas, e Alexandre VIII condenou tanto proposições laxistas quanto rigoristas.
Coube a Santo Afonso Maria de *Ligório ter encontrado uma postura equilibrada entre esses dois extremos. É também o pilar seguro de toda a moral casuísta posterior. O século XIX oferece poucas novidades em matéria de moral católica. Fora do movimento de renovação moral de J. M. Sailer (1751-1832), de J. B. Hirscher e de M. Jocham, na Alemanha, a moral católica continuou plasmando-se em manuais de moral casuísta.
O Vaticano II marca o final da moral casuísta ou pós-tridentina. É verdade que houve tentativas de renovação, ao longo do século XX, sobretudo a partir da II Guerra Mundial. Primeiro foi a crítica à moral casuísta, tachando-a de legalista, de desvinculação da Escritura, da teologia, de vinculação excessiva com “a práxis penitencial”. Depois e a partir dos anos 50, com o surgimento de manuais em que “entrava a imposição bíblica e cristocêntrica, ambos os aspectos foram decisivos na renovação teológica posterior. Autores como Tillmann (+1953), G. Thils, J. Leclercq, que publica seu livro sobre O ensinamento da moral católica (1950), “considerado como um aríete implacavelmente demolidor”; e finalmente, *B. Häring, que em 1954 publica A lei de Cristo, rompem o esquema tradicional da moral casuísta. Durante alguns anos serão o símbolo da moral renovada.
O Vaticano II formula um “votum” para que se coloque um “especial empenho em renovar a teologia moral” (OT 16). É a “culminância de todos os esforços realizados até o presente para renovar a teologia moral, e significa, sem dúvida alguma, o começo de uma nova época”. O próprio Concílio especifica os traços desta moral: caráter científico, especificidade cristã, orientação positiva e de perfeição, caráter eclesial, unificada na caridade e aberta ao mundo.
Mesmo sendo bastante difícil fazer um balanço da reflexão teológico-moral depois de Vaticano II, consignamos uma série de dados que em seu conjunto nos ajudam a formar uma idéia do estado atual da teologia moral. Destacamos os seguintes: a) Criação, nas faculdades de teologia, dos ciclos de “licenciatura especializada” em moral. Sobressaem-se os Institutos Superiores, dedicados exclusivamente à pesquisa e ao ensino da teologia moral. Destacam-se a Academia Alfonsiana de Roma e o Instituto Superior de Ciências Morais de Madri. b) Multiplicam-se as associações de moralistas, os congressos, semanários e revistas dedicadas exclusivamente ao tema moral.
c) Multiplicam-se os estudos monográficos em que surgem autores novéis; aparecem dicionários e obras coletivas que evidenciam o esforço comum e a convergência de mentalidades.
“Na década de 80, a teologia moral oferece um panorama de notáveis conquistas, de decidido progresso e de caminhos abertos para se continuar avançando. O balanço do pós-concílio é francamente positivo no que diz respeito à reflexão teológico-moral” (M. Vidal, Moral de Actitudes, I. Moral Fundamental, Ed. Santuário,
p. 20).
BIBLIOGRAFIA: M. Vidal, Moral de Atitudes, I. Moral fundamental, 87-132, com a abundante bibliografia ali citada. A contribuição desse autor e de sua obra para a renovação da teologia moral ou “ética teológica”, como prefere chamar, é decisiva entre nós. Paralela a essa atividade de M. Vidal está a obra do Instituto Superior de Ciências Morais e seu órgão de expressão “Moralia”, revista especializada em temas de moral.
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