História da Igreja

Apologistas (séc. II-III)

 

Sob esse nome, surge uma série ou grupo de escritores cristãos, principalmente do século II. Muitos de seus escritos estão dirigidos ao impe­rador ou aos governadores romanos, os únicos que podiam aceitar ou recusar sua causa. Todos os escritos têm um tom marcadamente apologético ou de defesa diante das acusações grosseiras aos cristãos, cada vez mais presentes no Império. Por isso, o tom e o estilo desses textos são bem dife­rentes dos da época anterior, essencialmente mis­sionários ou querigmáticos.

Nessa época, são bastante conhecidas as acu­sações contra os cristãos. Entre o povo circula­vam vis rumores contra eles. O Estado conside­rava a adesão ao cristianismo um crime gravíssimo contra o culto oficial e contra a ma­jestade do imperador. As classes mais altas e cul­tas consideravam o cristianismo como uma ame­aça crescente contra a integridade do Império. Por sua parte, escritores da época intervieram contra os cristãos: Luciano de Samosata publicou no ano 170 De morte peregrini, em que se zombava do amor fraternal dos fiéis e de seu desprezo pela morte. O mesmo fez Fronton de Cirta, professor do imperador M. Aurélio, em seu Discurso. E sobretudo o filósofo Celso, que em 178 publicou seu Discurso verdadeiro, e para quem o cristia­nismo não passava de superstição e fanatismo.

Os textos dos apologistas reúnem, assim, os argumentos e rumores que correm contra os cris­tãos e os rebatem contundentemente. Dirigem-se, sobretudo, contra três tipos de argumentos: a) Contra a acusação de que os cristãos representa­vam um perigo para o Estado. Chamam a aten­ção sobre a maneira de viver dos cristãos: séria, austera, casta e honrada; cidadãos de Roma, como os outros. b) Demonstram o absurdo e a imorali­dade do paganismo e de suas divindades. Defen­dem a unidade de Deus, a divindade de Cristo e a ressurreição do corpo. c) Avançam mais, afirman­do que a filosofia não foi capaz de encontrar a verdade, a não ser fragmentariamente. O cristia­nismo, ao contrário, possui toda a verdade, por­que o Logos, que é a mesma razão divina, veio ao mundo por Cristo.

A maior parte dos manuscritos dos apologistas gregos dependem do códice de Aretas, bispo que foi de Cesaréia da Capadócia. Este, em 914, man­dou copiá-lo para sua biblioteca, com a intenção de formar um corpus apologetarum desde os tem­pos primitivos até Eusébio. Os manuscritos pos­teriores foram copiados no século XVI, quando o Concílio de Trento estudava o tema da tradição na Igreja. Podemos, então, concluir que os genu­ínos escritos dos apologistas foram virtualmente desconhecidos até o séc. XVI.

O primeiro dos apologistas é Quadrato, que entre os anos 123-129 dirigiu seu discurso — hoje perdido — ao imperador Adriano, em defesa de nossa religião, “porque alguns malvados tratavam de incomodar os nossos”. Segue-lhe Aristides de Atenas, do qual conservamos o mais antigo dis­curso ou apologia; seu texto foi encontrado em 1889 no monastério de Santa Catarina do Sinai. Aristón de Pella é o autor da Discussão entre Jasão e Papisco sobre Cristo, texto perdido. São Justino (ver *Justino). *Taciano, o Sírio, compôs o Discurso contra os gregos, um argumento con­tra tudo o que pertence à civilização grega, sua arte, ciência e língua. E o Diatessaron, uma com­binação dos evangelhos. Os demais escritos se perderam.

Também merecem destaque Milcíades, que escreveu uma Apologia da filosofia cristã, dirigida aos “príncipes temporais”, cujo texto se perdeu. Apolinário de Hierápolis, que escreveu um dis­curso ao imperador Marco Aurélio, cinco livros Contra os gregos, dois livros Contra os judeus, dois livros Sobre a verdade. Nenhum deles se conservou, e somente os conhecemos por Eusébio. Atenágoras de Atenas escreveu a Súplica em fa­vor dos cristãos e Sobre a ressurreição dos mor­tos. De Teófilo de Antioquia somente nos chegou Ad Autolycum. Perdeu-se a maior parte de sua numerosa obra. Militão de Sardes é considerado uma das “grandes luminárias” da Ásia. Dirigiu uma Apologia a Marco Aurélio, cujo texto se per­deu. Além destas, atribuem-se a Militão outras 20 obras desaparecidas. Finalmente destacamos Hermas, autor da Sátira sobre os filósofos profa­nos, na qual procura comprovar com sarcasmos a nulidade da filosofia pagã, mostrando as contra­dições que encerram seus ensinamentos sobre a essência de Deus, do mundo e da alma. Nada se sabe da pessoa do autor. Também se desconhece a data de composição da obra: provavelmente o séc. III. Outro dos apologistas, Carta a *Diogneto.

Os apologistas latinos merecem capítulo à parte. Minúcio Félix escreveu em latim o diálogo Octavius. É a única apologia do cristianismo es­crita em latim e em Roma no tempo das perse­guições. O mais representativo dos apologistas latinos é *Tertuliano.

BIBLIOGRAFIA: J. Quasten, Patrología, I, 181-242; 527-682; Padres apostólicos (BAC 65); Padres apologetas griegos (BAC 116). 

 

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