História da Igreja

Anselmo de Cantuária, Santo (1033-1109)

 

Nasceu em Aosta del Piamonte (Itália) e mor­reu em Cantuária (Inglaterra). De nobre família lombarda, seu pai quis educá-lo para a política, pelo que nunca aprovou sua prematura decisão de tornar-se monge. Recebeu uma excelente edu­cação clássica e teve por mestre um dos melhores latinistas de seu tempo. Essa educação clássica levou-o ao uso preciso das palavras e à necessi­dade da clareza, perfeitamente demonstrada em sua obra.

Em 1060 entrou no monastério beneditino de Bec (Normandia) sob a direção do abade Lanfranc. Quando este morreu, Anselmo foi elei­to abade de Bec por sua capacidade intelectual e sincera piedade (1078). Foi nomeado arcebispo de Cantuária em 1093, onde foi incansável e ín­tegro defensor da independência da Igreja diante do poder real. Declarado doutor da Igreja em 1720.

Santo Anselmo representa a primeira grande afirmação da investigação da Idade Média. Suas obras ocupam os volumes 158-159 da PL de *Migne. É necessário citar o Monologium, cujo primeiro título era Exemplum meditandi de ratione fidei. O Proslogium, intitulado primitiva­mente Fides quaerens intellectum. Essa obra traz um polêmico apêndice: o Liber Apologeticus con­tra Gaulinonem. Compôs ainda quatro diálogos: De veritate, De libero arbitrio, De casu diaboli, De grammatica. Já em seus últimos anos, escre­veu seu conhecido livro Cur Deus homo, e De conceptu virginali, De fide Trinitatis, Meditationes etc.

Santo Anselmo passou para a história do pen­samento por seu argumento ontológico ou prova a priori da existência de Deus. Por solicitação dos monges, escreveu, em 1077, o Monologium, um tratado teológico e, ao mesmo tempo, apologético, que é formado por um conjunto de reflexões so­bre a essência divina e que conduzem a uma de­monstração da existência de Deus. O bem, a ver­dade, a beleza subsistem independentemente das coisas particulares, e não somente nelas. Há mui­tas coisas boas por sua bondade e beleza intrínse­ca, mas pressupõem um bem absoluto, que é sua medida e paradigma; esse bem supremo é Deus. Portanto, o sumo bem, o sumo ser, a suprema beleza, tudo o que no mundo tem verdade e valor coincidem em Deus. O Monologium desenvolve uma argumentação cosmológica, que vai do par­ticular ao universal e do universal a Deus.

O Proslogium, no entanto, estabelece uma ar­gumentação ontológica; parte do próprio concei­to de Deus para demonstrar sua existência. Deus é o ser mais perfeito que se possa imaginar: “quo maius cogitari nequit”. Pois bem, se Deus é o maior ou o mais perfeito ser que se possa imagi­nar, ele existe. Até o néscio deve admitir que o ser, a respeito do qual nada maior se pode pensar, existe no entendimento, embora não exista na re­alidade. Porém, não pode existir somente no en­tendimento, já que se não existisse na realidade, não seria o maior que se pudesse imaginar. Exis­te, pois, no entendimento e na realidade. Tal ar­gumento fundamenta-se em que o que existe na realidade é “maior” ou mais perfeito que o que existe somente no entendimento (Prosl. 2).

                        A atitude de Santo Anselmo diante da fé e da razão está expressa nesta frase: “Credo ut intelligam”. A fé é ponto de partida para a pes­quisa racional ou filosófica. Não se pode enten­der nada se não se tem fé. Mas só a fé não basta; é necessário confirmá-la e demonstrá-la. A fé pro­cura a luz da razão: “Fides quaerens intellectum”. Há um acordo essencial e intrínseco entre fé e razão.

                         “As teses de Santo Anselmo não constitu­em uma teologia nem uma filosofia completa, mas sondam profundamente os problemas que tocam e oferecem um primeiro exemplo da exploração racional do dogma, que as teologias denomina­das escolásticas desenvolveram logo depois... O que falta nesta doutrina, de pensamento tão forte e de tão firme expressão, é uma filosofia da natu­reza suficientemente densa para equilibrar o es­tonteante virtuosismo dialético de seu autor” (E. Gilson, o. c., I, 235).

 

BIBLIOGRAFIA: Obras: PL 158-159; Ed. Schmit, Roma-Londres 1938-1951, 5 vols.; E. Gilson, A filosofia na Idade Média, 226-236; Obras completas de san Anselmo (BAC), 1952-1953, 2 vols. 

 

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