História da Igreja

Camus, Albert (1913-1960)

 

“Escritor e filósofo, jornalista e político a seu jeito, Camus foi o escritor francês que mais pro­fundamente influenciou os leitores de todo o mundo durante as últimas gerações. O Prêmio Nobel concedido a Camus, em 1957, corroborou

o fato inegável dessa fascinação universal. Humanista doloroso e sensível, entre o absurdo que descreve e a solidariedade que converte para sua própria causa, é uma imagem de lucidez in­quieta e exigente que se revisa a si próprio entre distensões incuráveis” (M. de Riquer-José Mª Valverde, Historia de la Literatura Universal).

Charles Moeller, em Literatura do século XX e cristianismo, intitula seu estudo sobre Camus: Albert Camus ou a honestidade desesperada. E acrescenta: “O autor de Calígula não é um filó­sofo no sentido técnico dessa palavra. Precisamos retomar a seu respeito o termo, infelizmente mui­to gasto, de testemunha. Sua obra testemunha certa sensibilidade contemporânea diante do apa­rente silêncio de Deus”.

Depois de analisar de forma pormenorizada suas principais obras: O mito de Sísifo, ensaio (1942); A peste, novela (1947); os dramas Calígula (1947) e Os justos, além de suas pri­meiras obras como As bodas e outras, Ch. Moeller chega a este resumo geral:

 

— “Partindo do romantismo da felicidade sen­sível, Camus orienta-se, através de uma revolta contra o absurdo, para uma religião da felicidade que impõe aos seus adeptos uma espécie de mar­tírio. Concentrada inicialmente sobre a inquietude individual, a obra de Camus vai-se abrindo aos poucos para as desgraças do mundo; ela assume um tom de lealdade quase impessoal, que obriga ao respeito. Enfim, violentamente anti-religiosa a princípio, a obra camusiana torna-se mais sere­na; desinteressando-se cada vez mais da ‘ideolo­gia’ cristã, Camus exorta-nos com fervor a en­quadrar-nos na luta pelos ‘universais concretos’, contra a injustiça e a violência”. Esse julgamento conjunto sobre a pessoa e a obra de Camus, Moeller o explica em separado nas seguintes afirmações:

— “Não é ‘a peste’ o que está na origem da incredulidade do autor de Noces, mas o seu racionalismo, a sua recusa de acreditar em Deus porque tal fé implicaria numa desvalorização da vida. Esta conclusão é decisiva: Camus nunca se preocupou seriamente com o problema de Deus; sua incredulidade é um ponto de partida, uma negativa prévia”.

— “A geração Gide-Claudel está obcecada pela idéia da salvação... Em Camus, a opção em favor da felicidade é exclusiva; tomada no ponto de partida, mantém-se até o fim; é dentro do tema da felicidade que se realiza uma promoção religi­osa. O homem deve sacrificar a sua felicidade pessoal para tentar dá-la aos outros; ao mesmo tempo é-lhe impossível levar a feito seja o que for, sem fazer violência aos outros, ou matá-los”.

— “Camus ignora a religião cristã; também não é um filósofo. Sua descrença instala-se no ponto de junção da ignorância religiosa e do res­sentimento. A lealdade da sua lógica leva-o a dar à morte dos ‘justos’ um valor de redenção”.

— “Como viver sem a graça, é o problema que domina o século XX”, escreve Camus. Esta

 

frase-chave, já dita em outras palavras por Tarrou, explica-se melhor agora; como ‘viver’, significa como evitar, após o abandono do ‘sagrado’ a que­da na abominável revolução que mata e assassi­na? A resposta de Camus contém-se nesta sim­ples linha: “A verdadeira generosidade para o futuro consiste em dar tudo ao presente. Os que nada dão ao ‘presente’ mas lhe sacrificam um ‘fu­turo’ divino, serão os revolucionários e os homens religiosos”.

Assim poderíamos continuar criando inu­meráveis frases lapidares sobre esse mago das palavras e das idéias. Moeller finaliza o estudo com estas duas reflexões: “Camus nunca refletiu a sério na solidez do seu ponto de partida. Além disso, o ateísmo é a raiz mais forte da sua incre­dulidade”. Moeller acabou dizendo: “Como não estimar um homem que em meio ao nosso mun­do da vigésima quinta hora, de náusea e de ‘des­prezo do homem’, escreveu estas linhas: ‘No homem há mais coisas a admiração que a des­denhar’?”.

BIBLIOGRAFIA: Ch. Moeller, Literatura do século XX e cristianismo. Há tradução em português de quase toda a obra de A. Camus. 

 

CONTRIBUIÇÃO COM O SITE
 
marcio ruben
pix 01033750743 cpf
bradesco

Examinais as Escrituras!

FILOSOFIA