História da Igreja

Reforma (séc. XVI)

O termo Reforma aplica-se primordialmente à revolução religiosa que teve lugar na Igreja do Ocidente no século XVI. A Reforma levou con­sigo alguns homens que a tornaram possível, uma doutrina ou literatura e algumas conseqüências que poderíamos concretizar num estilo ou talante diferenciados.

A respeito dos autores da Reforma ou reformadores, seu pensamento e atividade podem ser consultados neste mesmo dicionário nos ter­mos *Lutero, *Calvino, *Zwinglio, *Melanchton etc. Sua leitura fala não de uma, mas de várias reformas. O talante e a cultura do reformador e do lugar deram fôlego às distintas reformas ou Igrejas reformadas.

Não obstante, fala-se da Reforma como algo diferente das reformas ocorridas na Igreja antes e depois. Os reformadores do século XVI — dife­rentemente dos anteriores, sobretudo medievais

— não somente atacaram a corrupção da Igreja, mas também foram a raiz teológica do problema, como era a perversão da doutrina da Igreja sobre a Redenção e a graça. Lutero e os demais reformadores deploraram e atacaram o sistema das indulgências como acobertador e falseador do li­vre dom da graça de Deus. Insistiu na não autori­dade do papa sobre o purgatório e na não consis­tência dos méritos dos santos sobre a base do Evangelho. Daí passou a descobrir a chave teoló­gica e moral de reforma da Igreja: a) a volta à Escritura com única norma (sola Scriptura); b) a fé, não as obras, como princípio da justificação (sola fides). A Reforma, em sua origem, procura voltar à primeira forma do cristianismo, tal como aparece nas fontes do Novo Testamento. Leva, portanto, uma intenção de crítica, revisão, inter­pretação e vivência do fato cristão. Isto se produ­ziu ao longo dos séculos XVI-XVII.

A Reforma realizou-se frente à Igreja de Roma, insistindo nestes pontos-chave, além dos dois aci­ma mencionados: 1) Sacerdócio universal dos fi­éis, a quem foi dirigida diretamente a palavra da Bíblia, que podem interpretar livremente. 2) A supremacia e direção interior de Cristo versus a supremacia e poder exterior do papa. 3) O aspec­to interior da fé e da graça que nos vem direta­mente pela fé e aceitação da Palavra. Tudo isso supõe a crítica e revisão do sistema sacramental, as indulgências, as devoções, o celibato, a vida religiosa consagrada etc. 4) A revisão do próprio conceito de Igreja. É algo exterior ou é somente interior? Quem são os que pertencem à Igreja?

A Reforma é, pois, uma nova maneira de en-tender e viver o “fato cristão”. Supõe, ao mesmo tempo, uma tarefa permanente de chegar ao ideal cristão ou utopia descrito no Evangelho. Além disso, abre um processo baseado no princípio de “Ecclesia semper reformanda”.

Foi uma revolução e, como tal, dolorosa e ca­tastrófica. “Em toda a história da Igreja, a refor­ma protestante constitui a maior das catástrofes, já que trouxe consigo males maiores do que as heresias da Idade Antiga, as seitas medievais e mesmo o cisma oriental de 1054” (G. Martina, De Lutero a nuestros días. I. Epoca de la Reforma).

Em primeiro lugar, a Reforma pôs fim à uni­dade européia, ou pelo menos à unidade religiosa baseada no catolicismo. O historiador Lortz re­sume os frutos do protestantismo no subjetivismo que deságua no racionalismo que leva ao laicismo, no nacionalismo e, finalmente, na subordinação da Igreja ao Estado. Com a mesma imparcialida­de, os historiadores modernos reconhecem os valores parciais que constituem o estilo e o talan­te das Igrejas e dos homens da Reforma. Advirta­se, no entanto, que pelo fato de esta tê-los afir­mado e colocado em primeiro plano, não se con­clui que não existam na Igreja católica. Existem neles verdades parciais que a Igreja do séc. XVI era propensa a deixar um pouco na penumbra e que foram revalorizados pelos reformadores. “É certo que a Igreja Católica reconhece tais valores como parte de seu patrimônio doutrinal, mas isso não nos dispensa de reconhecer como um mérito do protestantismo a afirmação e a defesa de al­gumas verdades, embora parciais, e de alguns valores, embora unilaterais” (G. Martina). Entre muitos outros, assinalamos os seguintes: a as­piração a uma religião mais pura e íntima, ba­seada numa relação mais direta com o Deus vivo;

o sentido do mistério ante o onipotente; certa austeridade de vida, alheia a compromissos fá­ceis com o mundo; o cultivo e a leitura freqüen­te da Bíblia em medida muito mais ampla do que se fazia entre os católicos; a importância atribuí­da à graça na vida cristã; participação mais ativa e responsável da liturgia, assim como maior cons­ciência do verdadeiro sacerdócio dos fiéis; exaltação da liberdade e da interioridade da cons­ciência etc.

Todos esses traços e outros dão às Igrejas e homens da Reforma o estilo e o talante de que antes falamos.

BIBLIOGRAFIA: Ricardo G. Villoslada, Martín Lutero. (BAC). Madrid 1973, 2 vols.; J. Lortz, Historia de la Refor­ma. Madrid 1963, 2 vols.; E. G. Léonard, Histoire Générale du Protestantisme, I. Paris 1961; M. Weber, La ética protes­tante y el espíritu del capitalismo. Madrid 1952. 

 

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