História da Igreja

Metz, Johann Baptist (1928-)

Nasceu em uma pequena aldeia da Baviera (Alemanha). Mais conhecido dos estudiosos do que do grande público, figura, entretanto, junto aos grandes da cultura alemã empenhados em desvendar a crise do homem contemporâneo. Sua atividade dividiu-se entre a cátedra, o estudo, con­ferências e viagens do Leste até a América Cen­tral. Muito vinculado à *Teologia da Libertação, da qual é inspirador, é o criador da teologia polí­tica, estreitamente unida a vários movimentos, e especialmente à rebelião das aulas que sacudiu estudantes e professores em maio de 1968.

“Cronologicamente — diz — a teologia polí­tica nasceu antes do maio francês e da rebelião dos estudantes. A partida de minha colocação coincide com o momento em que me pergunto como é possível fazer teologia de costas para Auschwitz e para o Holocausto final. Porque no meu país continuavam rezando e teologizando como se nada tivesse acontecido. Jurei para mim mesmo não fazer teologia de costas às dores e aos males dos homens.”

Metz descobriu que, por trás de todo esse si­lêncio, está a chamada religião burguesa. “Per­cebi — continua dizendo — que Auschwitz não é um assunto interno dos alemães. Aquilo foi uma catástrofe cristã. Mas se os cristãos — incluída a teologia — calaram-se, não foi por acaso. O cris­tianismo transformou-se num discurso legitimador de uma determinada cultura, onde a religião perdeu toda a capacidade criativa para resolver as ameaças que pesam sobre a humani­dade. O Deus da religião burguesa está morto e não reage sequer diante do holocausto final. Esse Deus é capaz de fazer tremer, mas não é digno de ser suplicado, nem exige nada, nem intervém, nem consola, nem nada. É somente um valor que legi­tima a identidade burguesa. Em nossa sociedade, Deus é o ópio, mas não dos pobres, como queria Marx, mas sim dos poderosos que fazem das pro­priedades o seu futuro.”

O discurso de Metz vai além até afirmar “que entramos no desmoronamento de uma civiliza­ção forjada no Renascimento e no Iluminismo”. Reconhece, mesmo assim, que a religião tem algo a dizer neste momento. “A religião cristã, quan­do não se dilui em desvirtuados secularismos, a religião messiânica, leva consigo sempre uma profecia política, que não anuncia um final cor­de-rosa mas a catástrofe final. O profeta não diz: “Se fizerem isso alcançarão o paraíso”, porém diz: “Se não fizerem isso, caminham para o desastre”. A profecia implica ruptura, resistência, conver­são. Ou melhor, a política do uso desconhece a categoria de ruptura. Isso me parece muito sério porque o pior que pode acontecer é que as coisas continuem como estão: assim vamos ao paroxis­mo dos conflitos que apontam por todos os lados”.

Às objeções surgidas a essa concepção da cul­tura moderna por parte da teologia política, Metz traz uma tripla resposta: 1) A teologia política não é nem pode ser uma alegação em favor de uma eutanásia da técnica. “O que pretendo é uma con­frontação produtiva com idéias dominantes como as de progresso, continuidade, desenvolvimento etc., que não nos levam ao futuro, mas ao rompi­mento.” 2) A teologia política também não advo­ga por uma nova forma de teocracia. Porque a novidade da teologia dos anos oitentas — dife­rentemente das épocas anteriores — é que apare­ceu um sujeito-chave: as comunidades de base, que podem ser um lugar social modelo, onde a vida política se personaliza em novas exigências morais e onde a vida pessoal se prolonga na vida política com toda a sua incidência social. Aqui se faz evidente que os conteúdos contemporâneos da religião cristã, como o pecado, a conversão do coração, o sacrifício etc., além de se oporem a uma interpretação simplesmente intimista, con­têm uma carga política muito maior do que seus correlatos secularizados. 3) Finalmente, não aca­ba com esses movimentos de base — carismáticos, pentecostalistas e muitas outras va­riantes — que se confessam expressamente apolíticos. Para Metz, “a espiritualidade cristã é propriamente tal quando não é exclusivamente religiosa. Jamais crucificariam Jesus por um com­portamento simplesmente espiritualista. Eu me refiro ao que está acontecendo na América Lati­na, que se transformou no centro da catolicidade do cristianismo e de onde está chegando a II Re-forma do cristianismo”.

O que afirma Metz sobre a relação existente entre religião e cultura? Há lugar para as notícias de Deus numa sociedade técnica e industrial? Pode-se falar já de um pós-cristianismo? “Na Europa — responde — existe uma relação muito deteriorada entre religião e cultura. Historicamen­te, a religião tem procurado falsos aliados; daí o antagonismo entre religião e cultura. Creio, no entanto, que dado o caráter universal do cristia­nismo, a relação entre religião e cultura não se propaga cingindo-nos exclusivamente na Euro­pa. O que acontece no Terceiro Mundo é definiti­vo. Se não se consegue ali uma nova relação en­tre religião e libertação, não vejo nada clara a res­posta.

BIBLIOGRAFIA: La fe, en la historia y en la sociedad. Esbozo de una teología política fundamental para nuestro tiempo. Cristiandad, Madrid 1979; Id., Teología del mundo, Sígueme, Salamanca 1970; J. B. Metz-A. Exter-W. Dirks, La nueva comunidad. Sígueme, Salamanca 1970. 

 

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