História da Igreja

Granada, Frei Luís de (1504-1588)

“Granada, que exerceu uma considerável in­fluência em toda a Europa, com sua mescla de atitude popular e técnica clássica, com um senti-do ingênuo e bondoso da religiosidade, figura com traços inconfundivelmente pessoais entre os qua­tro ou cinco ápices de nossa mística ascética e entre os primeiros que pode oferecer qualquer outra literatura.” Andaluzo, granadino, cheio de imaginação e de sentido fino e detalhista; de ori­gem humilde, filho de uma lavadeira, tudo o pre­dispunha a uma atitude franciscana diante das coisas; bom, crédulo, demasiado confiante nos homens, quase ingênuo. Por sua formação dominicana, conservou uma disposição sistemá­tica das grandes obras de procedência tomista, aristotélica, mas seu espírito estava mais próxi­mo de Santo *Agostinho e de Platão. Há em suas obras muitas citações de Santo *Tomás, porém, não menos de Santo Agostinho. Sua atitude dian­te da natureza, em cujas obras vê um reflexo da beleza e bondade de Deus, é essencialmente franciscana.

— Desse amor a toda a natureza nasce sua fer­vorosa religiosidade: amável, franciscana tam­bém: “Senhor, Deus meu, nada deseja mais mi­nha alma do que amar-vos”. Seu dom da palavra e dotes oratórios — foi comparado a Cícero e a São João Crisóstomo — põe a serviço da fé e da doutrina cristã. Antes de tudo, Frei Luís de Gra­nada foi um pregador, ministério que exerceu durante toda a sua vida, inclusive desde que se instalou em Portugal. Ainda em 1581, Filipe II

escreveu a suas filhas: “Por ser tarde, não tenho tempo de dizer-vos mais, senão que ontem pre­gou aqui, na capela, Frei Luís de Granada, e mui­to bem, embora seja muito velho e sem dentes”.

— Complementos dessa prédica são as obras escritas que nos deixou e pelas quais é considera­do um verdadeiro mestre espiritual: Introdução ao símbolo da fé; Livro da oração e da medita­ção e Guia de pecadores.

— Toda a primeira parte da Introdução ao sím­bolo da fé (1583-1586), sua obra mestra, é um comentário às belezas das coisas criadas, para nos elevarmos por elas ao conhecimento de Deus. Frei Luís de Granada baseia-se em Plínio, em Eliano, em passagens da Bíblia, para falar-nos de certas propriedades dos brutos, mas, ao lado de seus comentários pessoais a tais textos, acrescenta muitas impressões próprias de sua observação. Todas as belezas da natureza são motivo para aproximar-nos do Criador, e Frei Luís não faz outra coisa do que “filosofar neste grande livro de criaturas”. Tão evidente é o sinal de Deus em todos os seres da natureza que, como Santo Agos­tinho, antes duvidaria de haver alma em seu cor­po do que “duvidar se há Deus neste mundo”. Em seus argumentos combina e vai dosando os teste­munhos dos padres com os filósofos, principal­mente de Cícero e Sêneca, de Santo Tomás e de Aristóteles. Não em vão foi um homem do Renascimento.

A 2ª parte do livro refere-se às excelências da fé católica e à história de diversos mártires com o triunfo da religião de Cristo sobre a idolatria. A 3ª parte toca o mistério da redenção. A 4ª trata do mistério da redenção pelas profecias que o anun­ciaram e pelas objeções que possa suscitar. Na 5ª parte resume as anteriores. Obra teológica proli­xa, repetitiva às vezes, de muito discutido valor literário. A verdadeira obra mestra do escritor amante da natureza encontra-se na 1ª parte. As outras, bem inferiores em conjunto, apresentam, contudo, fragmentos e detalhes de indubitável formosura.

— O Livro da oração e da meditação é fruto da piedade efusiva do dominicano. Sua medita­ção centra-se nos mistérios da vida e paixão de Cristo desde o nascimento até depois da morte.

— A principal obra ascética de Frei Luís de Granada é o Guia de pecadores (1556). É um tra­tado completo de ascética, em que aponta o ca­minho que leva a Deus, os meios que temos e os perigos que nos espreitam. Para empreender esse caminho até Deus, coloca-se diante de nós a ex­celência da virtude e do serviço de Deus.

— Com esses livros, o padre Granada trans­formou-se num clássico que nos transmite de for­ma amena e sólida a doutrina de Cristo.

 

 BIBLIOGRAFIA: Obra selecta de Frei Luís Granada. Seleção de textos (BAC); Álvaro Huerga, Fray Luis de Gra­nada. Una vida al servicio de la Iglesia (BAC). Madrid 1990.

 

 

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