História da Igreja

Hume, David (1711-1776)

Hume é, sem dúvida, um dos homens mais representativos e característicos do século XVIII. Em contato com todos os homens importantes do *Iluminismo francês, criou a sua própria filoso­fia empirista, trazendo uma nova interpretação do conhecimento humano, da moral, da religião, que influirá depois não apenas em *Kant, mas em toda a filosofia e pensamento científico posteriores.

Nascido em Edimburgo (Escócia), cedo aban­donou o negócio de seu pai para seguir “sua pai­xão dominante”: o desejo de celebridade literá­ria. Muito jovem, entrou em contato com a litera­tura e com a cultura francesa. Estudou no famoso Colégio de la Flèche (1734-1737), onde teve seu primeiro contato com os clássicos como Cícero, Sêneca, e os modernos Montaigne, Bayle, e ou­tros céticos. Aqui compreendeu que o seu campo era a filosofia, e aqui escreveu o seu primeiro Tra­tado da natureza humana. Esse livro foi objeto de reelaboração praticamente ao longo de toda a agitada vida de Hume. Sua edição definitiva cons­ta de três partes: Do entendimento (L. I); Das paixões (L. II); Da moral (L. III). Entre 1741­1742 surgiram seus Ensaios de moral e política. E finalmente, a História natural da religião (1757), à qual seguiu post mortem, Diálogos so­bre a religião natural (1779). As obras mencio­nadas não são mais do que uma ínfima parte de sua fabulosa produção. Devemos acrescentar ain­da sua abundante correspondência (2 vols.) e sua autobiografia, Minha própria vida (1777) que quis colocar como prólogo de suas obras completas.

Do ponto de vista deste dicionário, interessa assinalar a postura de Hume ante a moral e a reli­gião. Naturalmente, toda a sua doutrina forma um sistema bem travado em que todas as idéias de­pendem mutuamente e se explicam. Mas é preci­so relembrar que onde se evidencia a mentalida­de de Hume, com toda a força destrutiva de seu ceticismo, é na filosofia da religião. Mina pela base, não só cristianismo, mas também o resíduo que se pretendia salvar com a idéia de “religião natural” que forjou o *deísmo.

Suas idéias com relação à religião podem ser sintetizadas nestas proposições: a) Não existe uma religião natural comum a todos os povos. b) Existe uma história natural das religiões, variadas con­forme as diversas épocas e civilizações. c) A ori­gem do sentimento religioso encontra-se no medo da morte e no horror aos castigos, assim como na ânsia de uma felicidade prometida. d) O politeísmo é a forma primeira e mais genuína do sentimento religioso dos homens, que inventaram heróis e santos para fazê-los propícios e favorá­veis ao culto. e) O monoteísmo é fruto da prevalência de um deus sobre outro. Como o res­tante dos iluministas, na religião não vê mais do que luta de superstições, fanatismos, hipocrisias imorais, ambições de poder temporal, intolerân­cia e aversão à liberdade de pensamento.

No entanto, o pensamento de Hume sobre a religião que acabamos de expor não é completo nem definitivo. Em seus Diálogos percebe que o ateísmo não corresponde ao seu ceticismo. Ataca

o problema da existência de Deus, não a priori, porque semelhante demonstração implica que a existência é tão pensável quanto a não existência de Deus, e em ambos os casos é similar à realida­de da idéia. Dos argumentos a posteriori nem o argumento da finalidade nem a moral são satisfatórios à mente humana. Que resta, então? Resta a conclusão cautelosa dos Diálogos: “Desmontadas as pretensões do racionalismo teológico, subsiste o fato de que, no mundo da experiência, onde nada é peremptoriamente demonstrável, tampouco o homem pode prescin­dir da crença, ou seja, de uma fé”.

Um agnosticismo seria a melhor conclusão, “já que não se pode encontrar uma solução mais satisfatória no que tange a uma questão tão mag­nífica e extraordinária”. Por isso, “o sentimento mais natural que um espírito bem disposto senti­rá, nesta ocasião, será uma espera e um desejo ardente de que possa o céu dissipar, ou pelo me-nos aliviar, essa profunda ignorância, oferecendo à humanidade alguma revelação particular, des­cobrindo-lhe algo da natureza divina de nossa fé, de seus atributos e de suas operações, com o que uma pessoa penetrada de um justo sentimento das imperfeições da razão natural voará à verdade revelada com a máxima avidez”.

“O ceticismo filosófico, ou seja, crítico, pode ser assim o primeiro passo e o mais essencial que conduz a ser um cristão verdadeiro, um crente”. Assim acabam os Diálogos.

Ainda quando fala nas Investigações sobre o tema dos milagres, escreverá: “Há um milagre mais maravilhoso do que qualquer outro: a pró­pria fé sobre a qual se fundamenta a nossa santíssima religião cristã, onde o que é movido pela fé a aceitá-la tem consciência de um milagre contínuo que ocorre em sua pessoa, e transtorna todos os princípios de sua inteligência e lhe de­termina acreditar o que é mais contrário ao hábi­to e à experiência”.

De todas as formas, Hume tem um inimigo constante: o dogmatismo.

Toda certeza em qualquer esfera — na ciên­cia, na moral ou na religião — é somente certeza moral. Daí que seja difícil concluir que foi um teísta, um ateu ou um agnóstico; sua atitude é freqüentemente agnóstica e, por assim dizer, mo­deradamente teísta, mas em nenhum caso dogmaticamente teísta ou atéia (Ferrater Mora, Diccionario de filosofía).

BIBLIOGRAFIA: Obras: The Philosophical Works of David Hume, 4 vols., reimpressão de 1963; The Letters of David Hume 1954, 2 vols.; Investigación sobre el conocimiento humano. Alianza, Madrid; Mi vida, Cartas de un caballero a su amigo de Edimburgo. Alianza, Madrid; Tratado (1933); Investigación sobre los principios de la moral (1941); Diálogos sobre la religión natural (1942); Tratado de la naturaleza humana (1974). 

 

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