História da Igreja

Melanchton, Philipp (1497-1560)

Teólogo, reformador e educador, conhecido como “Mestre da Alemanha” por ter reorganiza­do todo o sistema educativo alemão, fundando e reformando várias universidades.

Dois traços fundamentais acompanham toda a sua vida. Por herança paterna recebeu um senti­mento de profunda piedade que jamais o abando­nou. De sua aldeia local, Bretten, onde cinco pes­soas foram queimadas como bruxas em 1504, adquiriu um sentido do oculto e misterioso que seus estudos bíblicos posteriores relacionaram com as estrelas, os sonhos e os demônios. Sem­pre foi um crente apaixonado pela astrologia e pelos demônios. O segundo traço é o do humanista, influência de seu tio, o grande hebraísta e humanista, J. Reuchlin. Seu amor pela literatura clássica, latim e grego, levaram-no a trocar o seu nome alemão de Schwarzerd pelo equivalente grego Melanchton: “terra negra”. Considerado já em seu tempo como o grande humanista da Alemanha, em 1518 ingressou como primeiro professor de grego na Universidade de Wittenberg, depois de ter estudado nas Universi­dades de Heidelberg e Tubinga, conseguindo o título de mestre em artes. Após quatro dias de sua estada em Wittenberg, expôs o seu programa de retorno às fontes clássicas e cristãs “para regene­rar a teologia e rejuvenescer a sociedade”.

Em Wittenberg encontrou Lutero, de quem nunca mais se separou. Uma mútua empatia e sim­patia uniu a sorte e o destino destes homens, um impetuoso como um vulcão, o outro manso como um riacho. Nos finais de 1519, Lutero consegui­ra fazer de Melanchton o melhor teólogo da Re-forma e o homem mais adequado para seus pro­pósitos reformadores. Daí para a frente seria seu porta-voz e homem de relações públicas diante do imperador e diante de Roma. Seu sentido con­ciliador o levou, no entanto, a posturas incômo­das até parecer traidor da doutrina do Reformador, sobretudo em temas como a Eucaristia e as boas obras.

Assim como a sua vida, a sua obra é totalmen­te dedicada à Reforma. A instâncias de Lutero, Melanchton passou a explicar a Carta de São Pau­lo aos Romanos. Imediatamente depois publicou (1521) sua principal obra teológica: Loci communes, o primeiro tratado sistemático do pen­samento protestante. Trata do pecado, da lei, da graça, do livre-arbítrio, dos votos, da confissão. Apoiado na Escritura, Melanchton afirma “que o pecado é algo mais do que um ato externo, afeta a vontade do homem e suas emoções, de forma que o homem não pode praticar o bem nem merecê-lo diante de Deus. O pecado original é uma propensão natural, um impulso desordenado que se estende a todas as ações humanas. A graça de Deus consola o homem, e as obras deste, em­bora imperfeitas, são uma resposta alegre e agra­decida à benevolência divina”. O livro teve um êxito impressionante: três edições num ano. Em 1525, 18 edições, além de uma edição alemã. A edição de 1558, dois anos antes da morte de Melanchton, apareceu muito ampliada e modifi­cada. Os temas da Eucaristia e as boas obras so­freram em Melanchton mudanças importantes.

— Melanchton esteve presente na Dieta de Espira (1529), quando se originou o termo pro­testante, nascido em nome da liberdade de cons­ciência. A partir deste momento, será porta-voz dos protestantes diante do imperador e dos dele­

gados de Roma. A ele se deve a redação da Con­fissão de Augsburgo, a Confessio Augustana, de tom moderado. No ano seguinte (1531), escre­veu a Defesa ou Apologia da Confissão de Augsburgo, que cedo se transformaram nos do­cumentos oficiais ou confissões de fé luterana. A estes acrescentou-se um terceiro documento, pos­to como apêndice aos artigos de Smalkalda (1536), Apêndice sobre o papado, em que se re-pele, histórica e teologicamente, qualquer prima­zia papal por direito divino. Na edição de 1540 da Confissão de Augsburgo, Melanchton trocou o n. 10 dos 21 artigos que o documento contém, o que se refere à Eucaristia. Afastando-se de Lutero, expressa o pensamento calvinista da presença sim­bólica de Cristo no pão e no vinho. Essas confis­sões, junto à Fórmula de Concórdia, redigida em 1577, depois da morte de Melanchton, consti­tuem os documentos de fé luterana (*Confissões de fé).

Não termina aqui a obra de Melanchton. Temos seus comentários às Cartas aos Coríntios, aos Romanos, aos Colossenses etc. E sobretudo as Instruções aos visitadores (1528), em que além das instruções aos vigários, faz-se uma exposi­ção da doutrina evangélica e se esboça um esque­ma de educação para os graus inferiores. Com esse e outros livros de texto, Melanchton transforma­se no primeiro educador da Alemanha e organizador da Reforma.

 

Sua capacidade literária, sua clareza de pen­samento e seu estilo elegante fizeram-no o “escriba” da Reforma. Foi também o porta-voz e

o representante dos evangélicos diante dos adver­sários. Não quis, ou não conseguiu, libertar-se totalmente de Lutero, mas modificou algumas de suas posições primeiras. Como dissemos, tais modificações referem-se à Eucaristia, ao papel do homem na conversão e ao lugar das boas obras.

BIBLIOGRAFIA: Obras, em Corpus Reformatorum, vols. 1-28, Hale 1834-1860: Ricardo García Villoslada, Martín Lutero, (BAC maior), 2 vols.; Id., Raíces históricas del luteranismo (BAC), 1969. 

 

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