Baltasar Gracián (1601-1658)
Pensador espanhol nascido em Belmonte (Saragoça), e morto em Tarazona. Escritor barroco e conceptista, foi um dos pensadores espanhóis de maior e mais ampla influência na literatura e no pensamento da Europa. “A influência de seu estilo e de sua doutrina moral foi importante na França e, em especial, na Alemanha, particularmente em Schopenhauer — que traduziu Oráculo manual — e Nietzsche. Schopenhauer chegou a dizer: “Meu escritor predileto é o filósofo Gracián. Li todas as suas obras”. Sendo um dos maiores teóricos do conceitualismo, Gracián também teve grande influência na Itália, na primeira metade do séc. XVII, conforme testemunharam suas numerosas traduções. O interesse suscitado na Espanha, há meio século, ganhou dimensões internacionais de caráter duradouro” (Dic. de filósofos).
Da mesma forma que Calderón na poesia, Gracián representa uma visão do homem e da natureza na qual o individual desaparece em meio à generalização da ordem dos símbolos. Gracián é um dos grandes escritores do séc. XVII, conhecedor do mundo, da natureza e da sociedade. Sacerdote jesuíta, escreveu com liberdade e sofreu os efeitos da censura interna e da repressão de sua ordem.
Sua numerosa produção pode ser agrupada em três séries: uma de tratados da corte sobre o homem perfeito: O Herói (1637); O Político (1640); O Discreto (1646). Na segunda série estão: Oráculo manual (1647); O Crítico (entre 1651-1657). Na terceira série: Arte de engenho (1642) e Agudeza e arte de engenho (1648). Também escreveu O comungatório, um livro de meditações.
�. Em seus escritos aparecem em toda sua grandeza a dignidade, a miséria e a condição política e social do homem. O homem está corrompido pela sociedade que desfigura sua imagem de Deus. O homem é seu grande tema. “Não nascemos prontos: vamo-nos a cada dia nos aperfeiçoando como pessoa, no trabalho, até chegar ao ponto do ser consummado, do alcance das virtudes, das excelências: isso se reconhecerá no gosto requintado, no talento purificado; na prudência do juízo, na vontade depurada” (Oráculo, 6).
�. Em O Herói aguça-se o perfil engenhoso do homem ideal. “Em uns reina o coração, em outros a cabeça, e é sinal de necedade um querer estudar, e o outro lutar com a percepção. Para um cavaleiro corajoso não existe arma curta, porque lhe basta dar um passo à frente para que ela se alongue suficientemente, e, assim, o que lhe faltar de aço, o coração lhe suprirá com valentia”.
�. Do Príncipe — cujo exemplo de governador é o rei católico Dom Fernando — diz em O Político: “Não pode a grandeza fundamentar-se no pecado que é nada, mas em Deus que é tudo; ser herói do mundo pouco ou nada significa: mas ser herói do céu significa muito”.
�. Em O Magistrado, mais ainda que em O Herói, o ideal direciona-se para outra ordem de valores: o verdadeiro cortesão do século XVII. A essência do livro está em irmanar, na vida e na sociedade, o gênio com o talento, a grandeza da alma e da ação com a elegância do trato e a fineza dos gestos. Gracián preconiza o porte elegante, as boas maneiras, o galanteio, o domínio e, principalmente, a prudência, a sensatez, a adaptação aos modos de agir e às circunstâncias. E, acima de tudo, a moderação harmônica, a modéstia. Deve haver tempo para tudo, para a ética e para a sátira burlesca, para o riso e para o pranto, para a meditação e para a dança.
�. O Crítico é a grande novela simbólica do séc. XVII. Propõe apresentar, no estilo cortesão,
conforme o autor, o curso da vida humana, procurando juntar “o árido da filosofia com o divertido da invenção”. Nessa obra expressou o senti-do trágico da existência: “Ó vida, não devias ter começado, mas, já que começaste, não devias terminar. A felicidade não se encontra na terra. Tudo
o que existe zomba do homem miserável: o mundo o engana, a vida mente para ele, a fortuna zomba dele, a saúde lhe falta, a idade passa, o mal o apanha, o bem se ausenta, os anos fogem, a felicidade não chega, o tempo voa, a vida se acaba, a morte o colhe, a sepultura o engole, a terra o cobre, a podridão o desfaz, o esquecimento o aniquila, e o que ontem era homem hoje é pó e amanhã será nada”.
BIBLIOGRAFIA: Obras completas. Ed. por E. Correa Calderón, Madrid 1947; Obras Completas. Ed. e estudo preliminar por Arturo del Hoyo, Madrid 1960.
ACESSE curso TEOLOGIA
https://teologia-sistematica.webnode.page/