História da Igreja

Aranguren, José Luís L. (1909-1996)

 

Catedrático de Ética e Sociologia em Madri, de 1955 até 1965, quando foi afastado da docência, junto com E. Tierno Galván e A. Garcia Calvo, por motivos políticos. Durante dez anos exerceu sua atividade docente em universidades americanas. Voltou para sua cátedra da Universi­dade Complutense em 1976, onde permaneceu até sua aposentadoria. Desde então continuou seu magistério falado e escrito em conferências, au­las, congressos, artigos de jornais e revistas. O professor Aranguren é uma das figuras que mais entusiasmo e vitalidade intelectual suscitaram na Espanha durante os últimos quarenta anos, prin­cipalmente entre os jovens.

Sua obra falada e escrita gira em torno de pro­blemas de ética, filosofia da religião, de política e de cultura geral. Se fosse preciso enquadrar seu pensamento filosófico, dele se falaria em termos de “catolicismo liberal inconformista”, inclusive de um forte compromisso cristão e crítico diante da realidade. “A enorme influência que exerceu sobre gerações mais jovens da filosofia — e da vida espanhola — deve ser compreendida menos no sentido doutrinal e mais no sentido socrático” (Miguel A. Quintanilla, Diccionario de filosofía contemporánea).

“Aranguren sempre brindou com sua compre­ensão e estímulo a quantos nos aproximamos dele desolados diante da impossibilidade de encontrar no meio espanhol um marco estabelecido onde desenvolver nossas inquietudes, animando-nos a aprofundar criticamente nossas particulares incli­nações teoréticas, fossem de índole filosófica, sociológica ou política.”

Fala-se de Aranguren como do intelectual que sempre sentiu e sente uma insubornável, inequí­voca vocação pelo ensino, pela comunicação e pelo diálogo. Intelectual inconformista, desnudador de hipocrisias e desvinculado de toda ideologia imperante, um homem que dialoga e critica, fiel à vida mutante, com o olhar posto no futuro, sem jamais se deter no passado.

O tema religioso — e mais exatamente cristão

— é básico nele e corre ao longo de toda a sua vida. “ *Guardini e a renovação litúrgica, trazida por Maria Laach, abriram-lhe o sentido litúrgico do catolicismo. Max Scheler influiu poderosa­mente em sua visão do mundo e do homem. Leu Kierkegaard, desentranhou Heidegger e foi um apaixonado do vigoroso e límpido pensar do ve­lho castelhano, poeta e místico de Fontiveros, *João da Cruz”. Sua aproximação ao tema religi­oso é o de um intelectual e crítico. Aranguren confirma essa “imagem minha que nem todo o mundo — isto é, o pequeno mundo que se ocupa de mim — compartilhará hoje, mas que eu, natu­ralmente, aceito”.

Esse intelectual crítico transformou-se num denunciador constante de atitudes e condutas não autênticas, dentro e fora do cristianismo e da Igre­ja. Seu contexto imediato é a Espanha e todos aqueles que “resistem a olhar de frente a proble­mática real de nosso tempo, a da liberdade e da socialização, a do Estado de direito e do Estado de justiça social, a dos direitos humanos, a da participação ativa de todos os cidadãos na vida pública, a dos operários de empresa industrial e a de todos os homens nos bens da instrução, a pro­blemática na revolução ou da evolução, a das minorias regionais e a do exílio político, a da neu­tralidade e do desarmamento” (Meditação para a Espanha sobre a encíclica “Pacem in terris”).

Os primeiros estudos de Aranguren estão mar­cados pela instância religioso-existencialista: *Lutero, Heidegger, *Calvino, Kierkegaard, Jaspers, K. *Barth, M. Scheler, Ortega, *Unamuno e *Zubiri. São autores que configu­ram o substrato existencial personalista ou ético da autenticidade. Dentro desta primeira linha en­contramos: Catolicismo e protestantismo como formas de existência (1952); Catolicismo dia a dia (1955); O protestantismo e a moral (1954); Ética de Ortega (1958), e finalmente sua obra mais valiosa, Ética (1958). A partir dos anos ses­senta, adverte que toda moral pessoal é radical­mente social e seu pensamento centra-se em Mo­ral e política (1963); Moral e sociedade (1965); O que sabemos de moral (1967); O marxismo como moral (1968); A crise do catolicismo (1969) etc. Particular interesse oferece sua produção so­bre a juventude européia e espanhola, e também sobre a problemática da Espanha.

Não obstante o caráter intelectual, crítico e de denúncia na obra de Aranguren, tanto no campo da crença católica quanto em todos os demais pro­blemas filosóficos, políticos, sociais e culturais, nos últimos anos seu pensamento tem sido carac­terizado por uma atitude de inconformismo e de “heterodoxia”, assim como uma mescla de com­promisso intelectual e moral com certo distanciamento que o próprio Aranguren qualifi­cou de “irônico”.

BIBLIOGRAFIA: Obras: I. Biblioteca Nueva, Madrid 1965. Uma bibliografia bastante completa até 1969, em Teoría y Sociedad (Homenagem ao professor Aranguren). Barcelona 1970; Homenaje a Aranguren, dirigido por Pedro Laín Entralgo, 1972; J. Muguerza (ed.), Etica día a día. Homenaje a J. L. L. Aranguren. Trotta, Madrid 1991. 

 

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