Niebuhr, Reinhold (1892-1971)
Depois de estudar em Yale, exerceu o apostolado como pastor da Igreja Evangélica de Detroit. A partir de 1928, deu aulas de teologia pastoral no seminário da União Teológica de Nova York. Até a sua morte em 1971, dedicou-se ao ensino na cátedra, em revistas, conferências, assembléias e congressos. Sua obra escrita é importante por seu sentido pastoral e pela grande influência que exerceu no pensamento religioso americano.
Na doutrina de Niebuhr podemos distinguir três aspectos fundamentais: o aspecto ou plano social, o político e o cristão. Esse último é fundamental e envolve toda a sua atividade.
1. Do ponto de vista social, teve especial sensibilidade para as injustiças do capitalismo nor-te-americano. Desmontou as pretensões morais de Henry Ford com seu famoso salário de cinco dólares por dia para os trabalhadores de suas fábricas, e fez ver as injustiças e o custo humano que isso pressupunha para os empregados da Ford. Estas e outras experiências o fizeram ver o enganoso desse doce ideal moral que se vem identificando com a fé cristã, frente às realidades do poder de nossa sociedade técnica moderna. Idêntica reflexão fez sobre o liberalismo, ao qual oporá a maldade do pecado original, que atua no homem.
2. A preocupação pastoral de Niebuhr dirigiuse também para a política. A observação e o contato direto com a realidade americana permitiramlhe revisar constantemente suas idéias. De sua inocência e otimismo primeiros no liberalismo, que o levaram a acreditar que a ciência e a educação libertariam o homem do pecado, passou a aceitar, através de sua experiência de Detroit, al-guns dos pontos da crítica de *Marx ao liberalismo, sem jamais cair no marxismo como tal. Mais
tarde criticou também o marxismo “como a mais profunda tragédia de nosso tempo”, doença muito mais terrível que o liberalismo que pretendia curar. A crítica ao liberalismo, Niebuhr a expõe em Moral, Man and Immoral Society (1932). “O mal é fruto — diz — tanto dos grupos quanto do egoísmo dos indivíduos. É evidente que os interesses coletivos de classe, raça e nação são mais obstinados e persistentes que o egoísmo dos indivíduos.” Suas observações neste sentido aparecem como proféticas em nossos dias. “As relações entre os grupos são sempre predominantemente políticas mais do que éticas, já que estão determinadas pela proporção do poder que cada grupo possui.” E mais à frente: “A justiça se manterá na sociedade, assegurando uma justa distribuição do poder entre os diferentes grupos, evitando que uns dominem os outros. Um não fácil equilíbrio do poder poderia ser a meta mais alta à qual a sociedade poderia aspirar”. O pensamento político de Niebuhr está exposto em Nature and Destiny of Man (1941-1943), uma série de conferências dadas em Edimburgo, em 1939.
3. O compromisso social e político de Niebuhr nasce de sua fé cristã, e nela procura o sentido último de sua existência. Os vícios ou crueldades humanas são conseqüência, ou do esquecimento de Deus, ou da ilegítima apropriação do mesmo para fins egoístas. Como dissemos, Niebuhr não é otimista sobre a natureza do homem, já que o pecado tem suas raízes profundas nele. Somente
o amor de Deus é capaz de superar e transcender essa condição pecaminosa do mundo, e por esse amor adquire a liberdade necessária para vinculálo ao eterno e vivente amor de Deus. Esse amor de Deus é fundamental, não é contrário à razão, mas faz possível a razão. Suas duas obras mais pessoais e pastorais: Intellectual Autobiography e Leaves from the Notebook of a Tamed Cynic (1929), são livros que todos os cristãos e pastores responsáveis deveriam ler hoje.
BIBLIOGRAFIA: J. Mª G. Gómez-Heras, Teología protestante. Sistema e historia (BAC); Teología en el siglo XX (BAC maior), 3 vols. Para a compreensão da obra de Niebuhr, ver Diccionario de religiones comparadas. Cristiandad, Madrid 1975, 2 vols., com a bibliografia ali destacada.
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