História da Igreja

Greene, Graham (1904-1991)

Novelista inglês, criador de um mundo originalíssimo de idéias e de personagens. Foi qualificado como “narrador de problemas”, e “fabulador do mundo moral e do pecado”. Con­vertido em 1926 ao catolicismo, educou-se na Universidade de Oxford. Depois de um breve período como jornalista no “Times” de Londres, começou sua carreira de escritor e crítico em 1929. Durante 60 anos foi-nos dando uma rica galeria de intrigas e de personagens em forma de nove­las de suspense, de entretenimento, de dramas e de artigos, entrevistas etc.

“As histórias contadas por Graham Greene são aparentemente profanas; nunca o novelista lhes deu aquela demão que orienta o tema num senti-do edificante; vários romances seus lêem-se como histórias policiais. A técnica cinematográfica empresta aos sucessivos quadros um incompará­vel poder de sugestão. Uma atmosfera opressiva paira sobre cada livro: o calor úmido do México, a luxúria melancólica de Brighton, o Expresso do Oriente lançado através da Europa, com o seu carregamento de destinos cômicos ou trágicos, a frialdade matemática de Estocolmo, a nudez quen­te e putrefacta da Serra Leoa.

O leitor mais desatento adivinha contudo que para além do drama aparente se desenrola outro; uma espécie de contraponto oculto, de estranha ressonância aos menores gestos, nas mais insig­nificantes palavras. Logo se percebe que a atmos­fera é habitada por outra presença, a do mal e do pecado” (Ch. Moeller, Literatura do século XX e cristianismo, I, 291).

Como compreender G. Greene? As leituras e interpretações, que a cada dia se fazem deste es­critor inglês, deixam-nos perplexos. É simples­mente um escritor de novelas policiais? É um re­volucionário simpatizante do comunismo? É, por outro lado, um escritor ou novelista católico? Es­sas e muitas outras perguntas se fazem, a cada dia, inumeráveis leitores do todo o mundo. Onde está sua originalidade e qual é a diferença que faz deste autor único e diferente de todos? Talvez a resposta a tudo isto a encontremos numa frase atribuída ao próprio G. Greene: “Gostaria de ser conhecido antes como um católico novelista, do que como um novelista católico”. O mundo de G. Greene é um mundo caído, e nele está onipresente

o mal. A obsessão de Greene é a presença de Sa­tanás: “a graça, a bondade, o poder de Deus estão de tal modo submersos no oceano do mal, que Deus parece morto, crucificado mais uma vez num mundo cego e perverso; seus cristãos ficam a tal ponto fascinados por essa ‘morte de Deus’, que se sentem esmagados; não são santos; por vezes menos que homens. A impotência aparente de Deus manifesta-se nesses romances, com uma força nunca igualada até agora. A tentação maior é o desespero diante do silêncio de Deus” (Ch. Moeller, o. c., I, 291-292).

Rara é a obra em que não aparece um tema moral e religioso, do tipo político, social ou sim­plesmente humano. Assim, em O poder e a gló­ria (1940) aparece um sacerdote mexicano, bê­bado e com um filho, na época das perseguições anticlericais em seu país, que aceita o risco de morte por auxiliar um moribundo. Em O revés da trama (1948), o desenvolvimento religioso e moral resulta um tanto paradoxal: um homem, abandonado por sua mulher e unido a uma jovem também abandonada, não quer se separar dela, mas também não quer deixar de receber a comu­nhão, e sua escapatória para evitar a continuação do sacrilégio é o suicídio, confiante na misericór­dia divina. Fim de caso (1951) apresenta o caso curioso de uma mulher que teme que seu amante adúltero tenha morrido num bombardeio. Isto a leva a prometer a Deus, em quem talvez já não acredita, renunciar a ele se ainda estivesse vivo: assim se cumpre, e nas folhas de seu diário co­meça a crescer a presença de um “Outro”, o Deus possível, rival especialmente temível para um amante mortal. Encontramos a temática da fé e da moral em quaisquer de suas novelas. Célebre e discutida é a sua comédia O quarto de estar (1953), onde problemas de moral matrimonial fazem aflorar problemas de fé.

Provisório e, logicamente, não definitivo nem dogmático deve ser o juízo sobre a obra literária de Greene. Também não se pode reduzir sua obra numa única mensagem. São muitas as leituras. Mas uma coisa é certa: Graham é o “mártir da esperança”. O silêncio de Deus é a paz de Deus; a ausência de Deus, a sua presença mais profun­da; e no fundo do crime, a misericórdia lança suas chamas mais prementes. “A obra de Greene, con­clui Ch. Moeller, nada mais é que um comentário das palavras divinas: ‘Não julgueis’. Não julgueis

o mundo que vos parece abandonado por Deus: ele está habitado por Deus. Não julgueis a huma­nidade que, aparentemente, matou Deus; ela foi salva por Deus. Não julgueis a derrota de Deus, espezinhado em instituições que se entregam a Satanás, zombando da debilidade dos seus sa­cramentos; o poder e a glória de Deus estão ali presentes” (o. c., I, 339). 

BIBLIOGRAFIA: Muitas das obras de G. Greene estão traduzidas para o português: Os farsantes; Fim de Caso; O homem de muitos nomes; Um lobo solitário; O poder e a glória; Os planetas interiores; O décimo homem e outras. Ch. Moeller, Literatura do século XX e cristianismo, I; L. Durán, Las crisis del sacerdote en Graham Greene (BAC). 

 

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