História da Igreja

Bultmann, Rudolf (1884-1976)

 

Teólogo e escritor alemão. Estudou teologia nas Universidades de Tubinga, Berlim e Marburgo. Professor nesta última universidade desde 1921 até a sua aposentadoria em 1951. Muito discutido, tanto nos círculos protestantes quanto nos católicos, por sua interpretação dos Evangelhos, da pessoa histórica de Jesus e de sua mensagem, aplicou as normas da crítica histórica do século XX, assim como o “método das for-mas”, ao texto bíblico. Esteve em contato com as correntes filosóficas modernas, valendo-se, prin­cipalmente, da análise existencial de M. Heidegger. De imensa erudição e capacidade, é uma figura importante e discutida do pensamen­to cristão atual.

Seu pensamento está contido principalmente em A história da tradição sinótica (1922), na qual analisa os evangelhos à luz das diferentes formas. E no Novo Testamento e mitologia (1941), obra várias vezes revisada e publicada em dois volu­mes sob o título de Querigma e mito (1961-1962). Em 1927 surgiram uma série de ensaios e escri­tos menores de Bultmann com o título de Exis­tência e fé, nos quais projeta sua visão cristã atra­vés do existencialismo.

Uma análise da doutrina de Bultmann leva-nos às seguintes conclusões: 1) Ceticismo quase absoluto sobre o valor histórico do Novo Testa­mento (NT). Para Bultmann, os evangelhos estão menos interessados na pessoa de Jesus e mais no período posterior à sua morte. Os evangelhos são simples construções convencionais posteriores. 2) O cristianismo atual enlaça com o primitivo so­mente pela aceitação do querigma, que aparece em Rm 1,3-4; 6,3-4; At 2,21-24; 1Cor 11,23-26. 3) Somente desta forma não podemos saber nada sobre a vida e a personalidade do “Jesus históri­co”. Assim como *Barth, Bultmann reage contra a figura perfeita do Jesus histórico reconstruído pela teologia liberal do séc. XIX. É pouco o que sabemos e podemos reconstruir sobre a figura histórica de Jesus. As afirmações do NT sobre ele não se referem à sua natureza, mas à sua signifi­cação. 4) O tema central do evangelho é a morte e ressurreição de Jesus. A ressurreição não é um acontecimento objetivo, mas uma experiência viva que nos introduz numa nova dimensão da existência e nos liberta de nós mesmos — do pe­cado — para abrir-nos aos outros. Doutrinas tão básicas do cristianismo como a encarnação, mor­te, ressurreição e segunda vinda de Cristo dissi­pam-se numa interpretação existencialista da vida. A interpretação mítica dissolve-se num existencialismo que não deixa quase nada intacto no credo dos apóstolos.

A conclusão final de Bultmann é que o mito ou forma de pensamento em que aparece envol­vido o Evangelho apresenta-nos uma versão ma­nipulada e desfigurada de Jesus, Filho de Deus, que morreu e ressuscitou. Esse mito transmite­nos um querigma, uma palavra divina dirigida ao homem, que este deve aceitar de maneira desmitificada, isto é, desprovida de sua proteção. O Cristo com que nos encontramos hoje é o Cris­to da evangelização, não o Jesus da história. É o querigma desmitificado de formas do passado — todavia existentes na fé e na pregação de Jesus

— que nos obriga e nos defronta a uma opção entre uma vida autêntica e outra inautêntica.

Da doutrina de Bultmann deduz-se que a fé cristã deve interessar-se pelo Jesus histórico para centrar-se no Cristo transcendente do querigma. “A fé cristã é a fé no querigma da Igreja, pela qual se pode dizer que Jesus Cristo ressuscitou, e não fé no Jesus histórico.”

Todas as Igrejas, após reconhecer a boa von­tade de Bultmann, rejeitam a postura radical do grande mestre. Sua doutrina permitiu reconstruir melhor o “Jesus histórico” e sua função dentro da teologia atual. Os mesmos discípulos de Bultmann evoluíram para uma nova hermenêutica e inter­pretação da forma lingüística da existência.

BIBLIOGRAFIA: R. Bultmann, Teología del NT. Salamanca 1981. 

 

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